quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Silêncio e Palavra

 Há silêncios que falam, e palavras que calam. Antes de tudo vir a ser, antes de tudo, o Silêncio. Nele, não o Nada, mas o estado latente das coisas. Não o impensado, mas o projeto todo, ainda não manifesto. Um frêmito no universo, que ainda nem nome tinha. Era somente verso, onde o tudo era nada; não havia unidade, porque ainda não havia a separação. Amálgama de forças díspares, congruência entre ação e inércia: equilíbrio.
         E então, deste frêmito, o Verbo: a Palavra, vibração que percorreu o nada e ativou a ação. O silêncio, que antes falava da criação, deu vez a Palavra, que anteviu a forma. Semente de cada partícula, de cada cor, cada ser, a Palavra trouxe com ela a forma, as cores, pesos e medidas, odores e sensações. Trouxe a luz, e juntamente a queda. Trouxe a disparidade, para que se conhecesse a unidade. A Palavra não veio para trazer a paz, mas para que tomássemos conhecimento dela, através da guerra.

         Entre o Silêncio e a Palavra, a intenção. A intenção é o segredo, e o código de mil letras, sons ancestrais que nos levam, enfim à Palavra primordial, e esta, tocada em seu íntimo, nos joga ao Silêncio inicial. Mas o Silêncio, assim como a Palavra, não é paz, porque os dois compartilham da mesma essência. A intenção, sim, como seta que vai ao alvo, traz a calmaria que nos completa, a intenção, sim, traduzida em ação, é a paz em si mesma. Enquanto ebulirem pensamentos, não há paz, pois silêncio e verbo tentam, em vão, coabitar em nós. Quando a intenção torna-se ação, não há mais tensão entre  Silêncio e  Palavra. Há a conjunção de semente, energia latente, com a terra, criadora fecunda, e chuva, carreadora de  intenção do Ser.

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