Há silêncios que falam, e palavras que
calam. Antes de tudo vir a ser, antes de tudo, o Silêncio. Nele, não o Nada,
mas o estado latente das coisas. Não o impensado, mas o projeto todo, ainda não
manifesto. Um frêmito no universo, que ainda nem nome tinha. Era somente verso,
onde o tudo era nada; não havia unidade, porque ainda não havia a separação.
Amálgama de forças díspares, congruência entre ação e inércia: equilíbrio.
E então, deste frêmito,
o Verbo: a Palavra, vibração que percorreu o nada e ativou a ação. O silêncio,
que antes falava da criação, deu vez a Palavra, que anteviu a forma. Semente de
cada partícula, de cada cor, cada ser, a Palavra trouxe com ela a forma, as
cores, pesos e medidas, odores e sensações. Trouxe a luz, e juntamente a queda.
Trouxe a disparidade, para que se conhecesse a unidade. A Palavra não veio para
trazer a paz, mas para que tomássemos conhecimento dela, através da guerra.
Entre o Silêncio e a
Palavra, a intenção. A intenção é o segredo, e o código de mil letras, sons
ancestrais que nos levam, enfim à Palavra primordial, e esta, tocada em seu
íntimo, nos joga ao Silêncio inicial. Mas o Silêncio, assim como a Palavra, não
é paz, porque os dois compartilham da mesma essência. A intenção, sim, como
seta que vai ao alvo, traz a calmaria que nos completa, a intenção, sim, traduzida
em ação, é a paz em si mesma. Enquanto ebulirem pensamentos, não há paz, pois silêncio
e verbo tentam, em vão, coabitar em nós. Quando a intenção torna-se ação, não
há mais tensão entre Silêncio e Palavra. Há a conjunção de semente, energia
latente, com a terra, criadora fecunda, e chuva, carreadora de intenção do Ser.
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